Coluna Histórias & Estórias – Por Chico Lelis:
Martin, 17 milhões de voos e milhares de amigos conquistados
O seu primeiro voo aconteceu quando ele tinha 6 anos (75 anos atrás), indo com os pais para a Alemanha, a terra deles (ele nasceu em Porto Alegre). No total, até hoje, foram 17.008.541 quilômetros voados, significando três anos e quatro meses, acima dos 10 mil pés de altura. Tudo isso significado o mesmo que 425 voltas em redor da terra ou 44,7 de idas à lua.
Foram 1.059 dessas viagens para a América do Norte, Central, 1090 travessias do Atlântico Sul e 44 para a China. No Brasil ele pousou em 151 cidades, na maioria delas como integrante das equipes de voo da Varig, a empresa em que foi comissário e instrutor.
O autor dessas façanhas é Martin Bernsmüller, um “querido” da Imprensa Automotiva brasileira, com quem ele manteve contato por muito tempo, durante eventos da Volkswagen e da Mercedes-Benz, em que ele se transformou em guia turístico, após sua aposentadoria na Varig, em 1999 (ele trabalhou também por 11 anos na Lufthansa e por duas vezes na empresa brasileira).
Mas ele não é protagonista desta minha coluna pelos seus feitos aeroviários, mas, principalmente pelo apreço que têm por ele, todos os jornalistas que tiveram a oportunidade de participar de eventos em que ele cuidava dos detalhes das viagens e hospedagens dos convidados das empresas promotoras.
“Acredito que as definições mais apuradas de ‘Competência e Gentileza’ conseguem traduzir com exatidão a figura de Martin Bernsmuller. Amigo leal, homem de propósitos elevados e excepcional companhia, principalmente nas viagens. Um cavalheiro de rara espécie”. Depoimento do jornalista Fábio Amorim.
Pilotos da F1 também
Mas Martin não era o preferido só pelos jornalistas. Pelo seu modo profissional e afetivo de tratar os passageiros, acabou conquistando também alguns pilotos da F1, como Michael Schumacher, com quem conversava, em alemão (Martin fala 6 idiomas fluentemente e “arranha”, como ele diz, o mandarim) sobre as coisas da Alemanha.
Uma curiosidade tem como protagonista o piloto David Couthard, que chegava no voo com a equipe McLaren à 5 horas da manhã. Martin conta que o piloto adorava caipirinha e queria tomar a primeira logo que deixassem o aeroporto. De nada adiantava a alegação de que era cedo para a bebida. E isso aconteceu todas as vezes em que David vinha ao Brasil para a prova de F1.
Outro piloto “cliente” de Martin era o Kimi Raikkonen. Mas, o fato mais curioso envolvia a esposa de Juan Pablo Montoya, que era cliente assídua da Daslu (loja feminina com clientela de alto poder aquisitivo), de onde saia com muitas sacolas.
– Martin é alguém que vive o que ensina. Seu lema — “Diante dos maiores desafios, pare, pense e aja” — me marcou e se tornou também uma lição de vida para mim. Ele é o exemplo de que conhecimento e humanidade caminham juntos. É um amigo leal, uma referência, um verdadeiro maestro, o maestro do carisma. Depoimento de Gilberto dos Santos, jornalista que atuou com Martin como contratante, quando trabalhava na Volkswagen.
Um drink muito especial
Durante muitos anos a Varig colocou no seu cardápio aéreo um drink chamado Christiaan Barnard. E quem foi o autor da façanha? O Martin! É que na sua viagem a Nova Iorque, o médico Christiaan Barnard, autor do primeiro transplante de coração no mundo, em 3 de dezembro de 1967 (o paciente foi Loui Waskansky, que faleceu 18 depois, vítima de complicações pulmonares), fez escala no Rio, vindo da África do Sul (lá, na Cidade do Cabo, ocorreu a famosa cirurgia) em voo Varig.
Na segunda perna, rumo aos Estados Unidos, Martin era o chefe de cabine e teve contato direto com o famoso médico. No momento do atendimento a bordo, o nosso personagem perguntou ao médico o que ele gostaria de tomar. A resposta foi uma receita do drink que foi adotado pela Varig e, segundo Martin, em alguns bares de hotéis luxuosos pelo mundo.
– Ele –conta Martin – ensinou-me a fazer o drink: suco de laranja, vermute doce, bitter, vodka e angostura. Mistura e pronto, entrou para o cardápio Varig.
– O Martin sempre foi muito prestativo e chamava a gente pelo nome o que é difícil por que sempre fez viagens com grupos grandes e gostava de escutar suas histórias do tempo que trabalhou como tripulante na aviação comercial. Assunto não faltava nas conversas com ele. Uma simpatia! Depoimento de João Mendes, um dos mais antigos jornalistas do setor, que viajou muito com Martin).
Uma China impressionante
No ano que vem, quando fará 82 anos, Martin vai parar de trabalhar. Sua última viagem vai ser para a China, onde está a cidade que mais o impactou em todas as suas viagens pelo mundo. E isso não foi nos dias atuais, quando a China cresceu aos olhos do Mundo. Foi em 1982.
– Eu –conta Martin – que saí da pequena Estância Velha (interior do RS) que nem calçamento nas ruas tinha, vi aquela grandiosidade e fiquei impressionado, especialmente vendo o Hotel Península, de alto luxo, com seus Bentley, Ferrari, Rolls Royce parados na porta, enquanto do outro lado do rio, casebres que hoje desapareceram.
De gaúcho para gaúcho
Encerrando os depoimentos sobre o nosso personagem, aí vai o de Cezar Bresolin, que tem no Martin, um grande amigo. “Falar do Martin é uma coisa muito prazerosa. Uma pessoa do bem, sempre pronto a colaborar com quem precisa de ajuda. Se ele não sabe, vai buscar quem, sabe. Como se diz aqui no Sul, é um pé de cabra, que abri qualquer porta”. (Chico Lelis – chicolelis@gmail.com).



