Artigo: Projeções de máquinas agrícolas no Brasil 2030
Por Gregori Boschi e Carlos Cogo – O ano de 2025, que iniciou com instabilidades no ambiente econômico, já começa a sinalizar uma retomada relevante num setor vital para a economia brasileira: o mercado de máquinas e equipamentos agrícolas. Diretamente ligado ao desempenho do agronegócio, o setor projeta crescimento em 2025, após uma retração estimada em 2024, que é impulsionada por uma combinação de fatores:
Positivos | Desafios |
Safra recorde de grãos | Custo de financiamento elevado |
Aumento da agricultura de precisão | Restrição de crédito e juros altos |
Crescimento do uso de defensivos | Altos custos de aquisição e manutenção |
Expansão do mercado de bioinsumos | Adoção crescente de drones |
Setor agrícola – O Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio (“antes, dentro e depois da fazenda”) brasileiro em 2024, conforme cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), apresentou um crescimento de 1,8% no ano. Em 2024, o PIB do Agronegócio representou 23,2% do PIB total do Brasil, um leve recuo em relação aos 23,5% de 2023.
Para 2025, a expectativa é de crescimento entre 3,5% a até 6% no PIB da Agropecuária (“dentro da porteira”), impulsionado por fatores como a safra recorde de grãos em 2025, estimada em 322,4 milhões de toneladas, a maior da história, a recuperação dos preços de diversas commodities, elevando a renda dos produtores e as condições climáticas mais favoráveis, beneficiando a produção agrícola.
O grande desafio para o setor na temporada 2025/2026 será o Plano Safra. O orçamento previsto para o Plano Safra 2025/2026 é de R$ 15 bilhões destinados à subvenção de juros. No ciclo anterior, o Plano Safra 2024/2025 previa inicialmente R$ 12,1 bilhões, mas o valor efetivamente destinado acabou alcançando R$ 19 bilhões. No entanto, com a taxa Selic atingindo 15,25% ao ano, estima-se que seriam necessários cerca de R$ 25 bilhões apenas para manter o mesmo nível de apoio do plano anterior. Diante desse cenário, o Plano Safra 2025/2026 deverá cobrir apenas 20% da demanda total de crédito rural.
Máquinas agrícolas – Para 2025 na base de produção de máquinas, projeta-se um crescimento de 7% em tratores, enquanto colheitadeiras devem registrar uma leve retração de 1,9%, e pulverizadores autopropelidos uma queda de 2,9%. No horizonte de longo prazo, a Boschi Inteligência de Mercado estima os seguintes CAGRs (Taxas de Crescimento Anual Compostas) para o período de 2025 a 2030:
2025~2030 | Tratores | Colheitadeiras | Pulverizadores |
CAGR (%) | +3,3% | (-1,6%) | (-3,2%) |
Com base nesses fatores, as projeções até 2030 apontam para um cenário que mantém dinâmicas distintas entre os segmentos:
A produção de tratores deve manter trajetória de crescimento, impulsionada pela adoção de novas tecnologias e pela necessidade de renovação da frota, que se encontra defasada. Esse movimento deve ocorrer mesmo com o crédito mais caro, refletindo a importância desses equipamentos na produtividade agrícola.
No caso das colheitadeiras, a expectativa é de retração, impactada por três fatores principais: avanço da automação, adiamento das decisões de compra diante de juros elevados e exigências regulatórias mais rigorosas, como o MAR-II, previsto para 2030. Já os pulverizadores autopropelidos tendem a apresentar queda gradativa, à medida que a adoção de drones agrícolas inicia, ainda que timidamente, um processo de substituição tecnológica (canibalização).
Contexto tecnológico – O PROCONVE MAR-I, primeira legislação a regulamentar emissões para máquinas fora de estrada no Brasil, foi instituído em 1º de janeiro de 2015 vigente até 2019. Dessa forma, considerando o mesmo ritmo de implementação do MAR-I, a adoção plena do MAR-II ainda é uma incógnita para o horizonte de 2030.
Com base no estudo “Inventário de Emissões para Máquinas Agrícolas e Rodoviárias: Cenários Futuros e Projeções”, elaborado pela AFEEVAS/EnvironMentality (junho de 2024), é possível estimar a probabilidade de implantação do MAR-II no Brasil até 2030, considerando diferentes estágios do programa:
Marco de implantação | Probabilidade até 2030 | Motivo |
Publicação da norma MAR II (edição do texto legal) | ≈ 99 % | Premissa: publicação em dez/2025 |
Implementação Tier 4 Final em máquinas > 130 kW | 100 % | As quatro preveem entrada em operação entre 2028 e 2030 para esse porte. |
Implementação Tier 4 Final em máquinas 75–130 kW | ≈ 50 % | Apenas um cenário estima prazo final em 2030. |
Inclusão de máquinas 37–75 kW no MAR II (Tier 4) | ≈ 0 % | Nenhum cenário prevê esse segmento com MAR II até 2030. |
Cobertura completa do MAR II (todas as faixas) até 2030 | ≈ 5 % | A probabilidade madura de inclusão total nesse horizonte é extremamente baixa. |
A ausência de um plano futuro de emissões desestimula a competitividade da indústria local, tornando-a menos competitiva em âmbito global, especialmente no que diz respeito à escala de produção, uma vez que exigências internacionais operam em patamares mais avançados.
Por outro lado, as tecnologias embarcadas nas máquinas agrícolas até 2030 devem apresentar um salto significativo, elevando a produtividade, com menor dependência do operador e máxima eficiência operacional das máquinas. Este avanço virá acompanhado de um aumento no custo de aquisição e operação, demonstrado a seguir:

O que pensam os agricultores? – O Panorama Setorial “Decifrando o Cenário de Máquinas Agrícolas”, conduzido pela [BIM]³ – Boschi Inteligência de Mercado, cujos resultados conclusivos serão apresentados em setembro de 2025, trará um levantamento inédito que mapeará a frota nacional de tratores, pulverizadores e colheitadeiras.
A mecanização agrícola no Brasil acompanha a dinâmica de produção e as necessidades específicas de cada cultura. Grandes produtores de grãos, cana de açúcar e algodão investem com frequência na renovação da frota, buscando maximizar a eficiência e reduzir custos operacionais. Já as pequenas propriedades, com menor capacidade de investimento, recorrem a alternativas como locação, compra de máquinas usadas ou adaptação de equipamentos mais antigos.
É sabido que há uma necessidade iminente de substituição de máquinas no campo. Em comparação com outros países, a frota nacional é mais antiga, demandando manutenção constante e peças de reposição com maior frequência. O que ainda não se conhece com precisão, porém, é o planejamento de substituição de máquinas por cultura e por estado, tampouco as necessidades específicas de contratação adicional de equipamentos por safra.
Esses e outros temas essenciais para o planejamento estratégico de qualquer negócio agrícola serão revelados pela pesquisa da [BIM]³. (Foto: Divulgação).
(*) Gregori Boschi é Consultor e Sócio da [BIM]³ – Boschi Inteligência de Mercado.
(*) Carlos Cogo é Consultor e Sócio da Cogo Inteligência em Agronegócio.