Ases do Volante

UM ADEUS A ALTAIR BARRANCO

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Postado 24 de fevereiro de 2016 por bisponeto em
Já no dia 8 de junho de 1959, o jovem curitibano Altair Barranco, filho do empresário e proprietário de um dos depósitos de ferro velho mais conhecido de Curitiba – Francisco Barranco – fazia de pernas para o ar a curva da Praça General Osório, no início da Rua Comendador Araújo, no centro da Capital Paranaense, pilotando uma motoneta de 150cc preparada para competição. Isto, na verdade, foi um espetacular tombo que Barranco sofreu depois de uma derrapada, tendo a imagem desse fato sido captada pelo fotógrafo J. Kalkbrener Filho e divulgada no jornal O Dia. Com sua Lambretta de corrida, número 111, Barranco participava na categoria Força Livre da prova “Erondi Silvério” competindo com pilotos famosos sobre duas rodas, tais como Giovane Sgro, Manoel de Alencar Guimarães, Orlando Chichorro, Bugoslavo e outros, tudo sob os olhares do Inspetor de Trânsito Guerra.

De outra feita, no dia 9 de março de 1960, Altair Barranco participava de outra competição, desta vez em circuito localizado no Bairro Guabirotuba, em Curitiba, pilotando motoneta na categoria “standart” da prova “Walfrido Previdt”. Ao lado dele estavam pilotos tais como Affonso E. Ebbers, João Maurício Virmond, José Taborda Alves e Joel Lores.

Esse, prezados antigomobilistas, foi o início da carreira, como piloto de veículos de competição, de um dos mais populares e polêmicos personagens do universo automobilístico paranaense e brasileiro do final da década de 1950 até l970/80: Altair Barranco. Depois que ingressou no automobilismo, disputou provas memoráveis tanto no Paraná quanto em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, em estradas asfaltadas, estradas de chão, circuitos de rua e autódromos, entre os quais o Internacional de Pinhais – PR.

Em 1962, em parceria com o piloto curitibano José Curi, disputou as Mil Milhas Brasileiras no autódromo de Interlagos-SP, tocando uma carreteira Ford, lado a lado com os pilotos mais famosos do Brasil na época. Certa vez Barranco relatou a este jornalista que, quando ainda participava de corridas de motocicletas, seu pai pediu-lhe que abandonasse esse esporte, devido ao perigo que este representava. Aí foi a chance para que Barranco respondesse ao seu pai: ”Está certo, eu abandono as motocicletas, mas, quero correr de carro, que é mais seguro.” Seu pai concordou.

RODOVIA DO CAFÉ

Uma das mais famosas provas em estrada pavimentada asfalticamente das quais Altair Barranco participou com sua carreteira Ford V8 número 27, foi a referente à inauguração da Rodovia do Café, no trecho Curitiba/Londrina, numa distância de 802 quilômetros, ida e volta. Isto, no dia 18 de dezembro de 1966.

Os mais conceituados pilotos e as mais potentes e velozes máquinas estavam presentes na largada, no quilometro zero da rodovia, altura do Parque Barigui, na capital. Eram 32 carros. Segundo a imprensa noticiava, somente os motores das carreteiras somavam 1.800HP. O valor do prêmio para o vencedor da prova era de cinco milhões de cruzeiros. Camilo Christófaro, Francisco Landi, Jaime Silva e outros pilotos nacionais estavam lá. Até a Miss Brasil – Angela Vasconcelos – compareceu. Mil homens, dois aviões, um helicóptero e l5 ambulâncias com médicos e enfermeiros foram mobilizados para fazer a segurança ao longo do trajeto. Quis o “destino” que Barranco não concluísse a prova.

Explicou-me o piloto que, um dia antes da corrida, seu mecânico pegou a carreteira para fazer uma revisão do sistema de transmissão. Apesar de o carro estar pronto para correr, o mecânico insistiu em retirar o cardã que, para sair pela parte traseira, obrigava à retirada da suspensão. Concluída a revisão, o mecânico esqueceu de colocar no lugar os batentes do molejo e isso foi fatal. “Estava a mais de 200 quilômetros na ida a Londrina, na localidade do Sprea, depois da serra de São Luiz do Purunã, quando num solavanco o molejo traseiro cedeu muito por estar sem o batente, forçando demais o eixo cardã e quebrando a sua cruzeta. Foi o fim da corrida para mim. Por excesso de zelo do meu mecânico, a carreteira quebrou”, disse Barranco.

A corrida foi vencida pelo piloto de Londrina – Ettore Beppe – pilotando uma Berlineta Interlagos da equipe Willys, com média de 152,355km/h. Em segundo chegou o piloto Angelo Cunha, de Laranjeiras do Sul/PR, com a carreteira Ford número 74, motor de 350 cavalos, estreando freios a disco trazidos da Argentina.

TRISTEZA

Agora, com muita tristeza, pois, além de tudo acompanhamos a carreira de piloto de Altair Barranco ao longo de muitos anos e víamos nele um dos pioneiros, um dos construtores da história do automobilismo brasileiro de competição, não sem grandes sacrifícios, tomamos conhecimento do seu falecimento. Ao lado de pilotos paranaenses como Bruno Castilho, Francisco Zeni e outros, ele formou a nova geração de pilotos de carreteira no Paraná, encerrando o ciclo de utilização deste tipo de veículo em corridas no Brasil.

Nas fotos que estampamos hoje, Barranco aparece empurrando, na largada, a sua motoneta número 111, na prova “Erondi Silvério”; de pernas para o ar, nessa mesma prova; ao lado dos pilotos de carreteiras paranaenses Adir Moss e Miroslau Sokacheveski, depois de corrida de carreteiras em São José dos Pinhais-PR, no circuito chamado de “Chiqueirinho”; pilotando a carreteira número 27, no contorno da praça em frente ao estádio do Clube Atlético Paranaense, em Curitiba, na I Seis Horas de Curitiba; ao lado da carreteira número 27, quebrada, à beira da Rodovia do Café; e finalmente em frente à sede da Polícia Rodoviária Federal, bairro Tarumã, em Curitiba, fazendo a curva lado a lado com a carreteira número 6 de Francisco Zeni, tendo atrás um Simca carreteira rebaixado, na II Seis Horas de Curitiba. Altair Barranco, nascido a 23 de agosto de 1939, faleceu a 13 de janeiro de 2016 e está sepultado no cemitério municipal de Curitiba, onde faz companhia a outro pioneiro e famoso piloto de carreteira paranaense – Haroldo Guimarães Vaz Lobo. A ele o nosso triste adeus! (Ari Moro).

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