Ases do Volante

Morre José Luiz, preparador de carreteiras

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Postado 15 de abril de 2014 por bisponeto em
O automobilismo de competição paranaense e brasileiro ainda se ressente da recente perda de um de seus mais destacados mecânicos preparadores de carros de corrida, com ênfase nas famosas carreteiras ou seja,  automóveis de passeio  preparados para disputar provas em ruas, estradas e circuitos fechados e que dominaram o cenário automobilístico nacional desde o final da década de 1940 até o final da década de 1970. Trata-se de José Luiz Barboza, falecido em Curitiba no dia 23 de fevereiro do corrente ano, quando ainda se encontrava em plena atividade profissional na sua oficina mecânica São Marcos, localizada na Rua Iapó, bairro Prado Velho. Neste local, tivemos a oportunidade de entrevista-lo há cerca de dois anos, oportunidade em que fez amplo relato sobre a sua atividade como preparador de carreteiras. Nesta ocasião, fizemos convite e ele aceitou, comparecendo a um Encontro de Veículos Antigos realizado pelo MP Lafer Auto Clube do Paraná na cidade litorânea de Antonina\PR, oportunidade em que recebeu homenagem por parte desta entidade por sua colaboração no sentido do desenvolvimento do automobilismo de competição nacional.

José Luiz Barbosa nasceu na cidade de Vassouras\Rio de Janeiro a 6\7\1937, filho de Francisco Henriques e Guiomar Barboza. Morou e trabalhou numa fazenda de produção de frutas e pecuária no citado estado, só entendendo da mecânica de jipes e caminhões. Marcos Corção, famoso engenheiro curitibano construtor de carros de competição foi quem trouxe José Luiz à capital paranaense no dia 11 de março de 1958, a fim de trabalhar numa oficina mecânica de automóveis situada na rua Saldanha Marinho 1.209. Ali trabalhou como empregado até 1967, quando então adquiriu o estabelecimento juntamente com Domingos Waleski, outro famoso mecânico e eletricista da capital, conhecido popularmente como Mingo. Mais tarde, adquiriu a parte de Mingo na casa e ficou sendo o único proprietário.

No local, José Luiz permaneceu durante 22 anos, transferindo a oficina depois á Rua Iapó, onde prestou serviços a sua vasta clientela por mais cerca de 33 anos. Ao todo, foram 55 anos de ofício. Sem dúvida, a experiência e os conhecimentos sobre mecânica automobilística dele eram inquestionáveis. No seu escritório, na oficina, ainda se pode ver uma vasta biblioteca versando sobre o assunto e que o ajudava quando era necessário, sobretudo quando se tratava de veículos antigos.

AS CARRETEIRAS

Foi em 1965 que José Luiz ingressou no automobilismo de competição, primeiro dando assistência mecânica ao piloto paranaense, de São José dos Pinhais, AdirMoss, levado a essa atividade por outro famoso construtor de automóveis de competição curitibano, o engenheiro Alberto Manoel Glaser.

A carreteira em que José Luiz trabalhou por mais tempo foi a de Ângelo Cunha, famoso empresário e piloto de Laranjeiras do Sul\PR, que frequentemente estava em Curitiba e São José dos Pinhais\PR, por possuir parentes aqui. Essa carreteira, um Ford 1940 cupê, foi comprada do “Vaca Magra”, de Porto Alegre. Foi equipada com motor Ford V8 da camioneta Ford F-100 e câmbio de 4 marchas do Jaguar XK 120 de 1951, tendo este posteriormente sido substituído pelo câmbio do Ford Fairlaine XLK 1960, de 4 marchas também. Foi a primeira carreteira a ser equipada com freio a disco nas rodas frontais e pneus tipo “tala larga” nas rodas traseiras, novidade na época.

NA ESTRADA

Entre outras corridas das quais participou como co-piloto na carreteira número 74 de Ângelo Cunha, José Luiz esteve presente  numa das mais famosas corridas de estrada realizadas até hoje no Brasil ou seja, a de inauguração da Rodovia do Café, no trecho entre Curitiba e Apucarana, ida e volta.

Na largada, no Parque Barigui, na capital paranaense, alinharam cerca de 50 carros pilotados por destacados pilotos brasileiros como Catarino Andreatta\RS, Camilo Christófaro\SP -com a carreteira mais “quente” do país – número 18, com motor Corvette, Jaime Silva\SP – SimcaAbarth vindo da França com motor de quatro cilindros traseiro, Ciro Cayres\SP, Altair Barranco\PR, TuttySchrappe\PR – com carreteira Chevrolet – motor seis cilindros com equipamento Wayne, Afonso Ebbers\PR – com Chevrolet 1936 equipado com motor Corvette, entre outros. “Na ida – contou José Luiz – fomos atrapalhados pela chuva devido à inoperância do limpador de para-brisa. Chegamos em Apucarana atrás de 10 a 15 carros. Mas, na volta, com a pista seca, fomos ultrapassando um por um, só restando na nossa frente um dos dois Simca Abarth concorrentes e pertencentes à equipe de fábrica comanda nada menos que por um dos pilotos mais famosos do Brasil –  Chico Landi. Fizemos o segundo lugar na geral e o primeiro na categoria de Carreteira”.

Esta, apenas uma partícula da história da vida profissional desse extraordinário mecânico de veículos e preparador de carros de competição que certamente deixou muitas boas lembranças e saudade entre os antigomobilistas de todo o país. Na foto, agachado ao lado da carreteira 74, José Luiz e em pé o piloto Ângelo Cunha (Ari Moro).

 

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